Seja por um imprevisto, seja por falta de planejamento ou por impulsividade, não é raro que, em algum momento, gestores percam o controle do fluxo de caixa da empresa, assumindo um compromisso que não cabe no orçamento corporativo. É nesse cenário que surge a necessidade da renegociação de dívidas.
Se há uma dívida na sua empresa e não há recursos para quitá-la, é sinal de que algumas decisões erradas foram tomadas ou que não houve planejamento suficiente para situações imprevistas (e elas sempre acontecem).
Neste artigo, você vai entender melhor o que é e como funciona o processo de renegociação de dívidas. Você verá como a renegociação de dívidas se constitui, a importância de quitá-la, a melhor época para realizar esse procedimento e como fazê-lo de maneira eficaz. Então continue a leitura e tire suas dúvidas!
Quando firmamos um contrato com um terceiro e recebemos um bem ou serviço em troca de um pagamento futuro, adquirimos uma dívida. Na definição conceitual, esse contrato pode ser de qualquer tipo, ou seja, não necessariamente precisa ser documentado.
Da mesma forma, esse pagamento não precisa ser em dinheiro para que se configure dívida. Por exemplo, se a empresa pega dinheiro emprestado e se compromete a pagá-lo no futuro, seja de forma parcelada, seja integralmente, ela contraiu uma dívida. É semelhante ao que acontece em caso de compra parcelada.
Sendo assim, existem duas figuras nesse tipo de acordo. O credor é aquele que detém o direito do recebimento da dívida, enquanto o devedor é obrigado a pagá-la.
É claro que dívidas nem sempre são ruins. Elas também podem significar que existe algum investimento sendo feito e, se tudo for bem organizado, elas passam a ser apenas mais uma parte do planejamento financeiro. Contudo, é bom saber reconhecer uma dívida boa e uma dívida ruim.
Toda dívida não planejada é ruim, pois ela pode comprometer as finanças da empresa. Portanto, costumam ser geradas por compras impulsivas ou constantes. Normalmente, esse tipo de dívida sinaliza que não há um controle inteligente dos gastos. Por outro lado, também pode ser resultado de alguma crise econômica no mercado.
Realizar várias compras em pequenas parcelas e não acompanhar o valor total é um exemplo de como a falta de planejamento pode acabar se transformando em uma dívida ruim.
A dívida boa é aquela que faz parte da organização do seu negócio e que você encaixa no orçamento com antecedência, pois sabe que vai contraí-la.
Quando financiamos uma máquina ou contratamos um serviço de uma empresa especializada para uma escola, por exemplo, ficamos responsáveis por pagar posteriormente as parcelas do financiamento. É uma dívida adquirida que não vem de um gasto não planejado, mas que faz parte de um investimento.
As pessoas nem sempre tiveram cartões de crédito, contas em bancos ou mesmo utilizavam o dinheiro para obter os produtos e serviços que desejavam. Voltando até a época dos nômades, vemos que nossa economia era formada, basicamente, por escambo, que é a troca de bens e serviços por outros bens e serviços.
O problema com o escambo é que nem sempre as pessoas têm em mãos os bens que precisam trocar para obter aqueles que elas querem. Isso se tornou ainda mais complicado quando a variedade de produtos disponíveis passou a aumentar. Não é difícil imaginar que, a partir daí, se tornou mais viável utilizar alguma moeda de aceitação geral como objeto de troca.
O gado, o sal, o pau-brasil, o açúcar, o pano, o tabaco e várias outras mercadorias que tinham grande demanda foram utilizadas como moeda por muito tempo. Contudo, devido à oscilação de seus valores e a fácil perecibilidade, o homem passou a utilizar o metal como moeda.
No entanto, mesmo antes de o dinheiro entrar em jogo, a dívida já existia, pois ela é tão antiga quanto o próprio escambo. Adquirir um produto e não ter no momento a mercadoria que a outra pessoa quer em troca também configura uma dívida.
Havia uma estreita relação entre escravidão e dívida antigamente. Não são raros os relatos históricos em que devedores, incapazes de quitar suas dívidas, eram forçados a se submeter ao trabalho escravo junto de seus familiares e servos.
Há casos em que o tempo para que a dívida fosse quitada era tão grande que até as futuras gerações dos devedores ficavam comprometidas.
Foi durante o final da Idade Média, na Europa, que leis para lidar com a dívida começaram a ser criadas. Como esse mecanismo ainda era precário, era muito comum os devedores serem completamente extorquidos, perdendo muitos bens caso algum credor levasse sua dívida à justiça.
Com o crédito sendo cada vez mais utilizado e, muitas das vezes, em operações de curto prazo, o cartão de crédito foi inserido no século XX para facilitar a compra de mercadorias simples, que seriam pagas pouco tempo depois.
Mas, como nem tudo são flores, foi ao final do mesmo século, com a popularização do cartão de crédito, que os consumidores se endividaram em massa pelo mundo.
O mecanismo do crédito é essencial para que uma economia prospere. Poder adquirir bens e serviços sem dispor no momento do montante que representa o custo total do que é adquirido é uma forma que o homem encontrou de não ficar estagnado por grandes períodos de tempo enquanto junta dinheiro.
Assim, as pessoas podem continuar melhorando de vida e contratando serviços, enquanto as empresas podem garantir a continuidade das suas operações e manutenção de empregos. A dívida, nesse sentido, representa o progresso humano.
Quando ficamos endividados e não há como pagar, a tendência é que a situação piore e que outras dívidas acabem sendo contraídas. Isso acontece pois, na intenção de amenizar os juros que começam a correr, utilizamos o dinheiro destinado a outras contas menores e elas também passam a ficar atrasadas.
Por isso, um bom gerenciamento do fluxo de caixa é tão importante. Empresas também ficam com o nome sujo e, nesse caso, perder a concessão de crédito e o estresse financeiro são algumas das consequências dessa situação.
A melhor maneira de evitar que isso aconteça é por meio da renegociação de dívida. Outros benefícios que a renegociação pode trazer são:
Por isso é tão importante contatar o credor tão logo uma conta passe do seu prazo de pagamento.
O recomendado é tentar renegociar assim que o primeiro contrato atrasa. Porém, caso isso não tenha sido feito, não se deve partir para a renegociação no instante em que se passa a saber dessa oportunidade.
Assim como comprar maquinário novo ou fazer uma reforma, negociar a dívida requer uma situação financeira favorável do fluxo de caixa. Se a sua empresa não tem condições de pagar as parcelas sem comprometer o caixa e gerar mais despesas, então, é mais viável aguardar.
Além disso, é bom evitar épocas em que as despesas costumam ser naturalmente mais altas, ou seja, épocas em que pagamos muitos impostos jurídicos.
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Além dos meses em que o dinheiro disponível em caixa está mais livre para começar a pagar as parcelas do acordo, existem outros que também podem ser favoráveis. Na intenção de aumentar o consumo no Natal, as empresas costumam oferecer descontos em negociações efetuadas em novembro. Dessa forma, aumenta a quantidade de consumidores com acesso ao crédito.
Durante o ano, também ocorrem os chamados feirões limpa nome, nos quais diversas empresas se reúnem e oferecem aos credores a oportunidade de firmarem acordos para quitarem suas dívidas. Um ponto importante de ressaltar é que muitas empresas oferecem uma faixa muito pequena para escolher a data do pagamento da primeira parcela.
Não é incomum a data do primeiro vencimento ser cinco dias após o acordo ter sido feito. Por isso, tente realizar a renegociação quando tiver dinheiro suficiente disponível em curto prazo.
O processo de renegociação é positivo quando realizado com o planejamento correto. Portanto, é essencial seguir os passos que listamos a seguir.
Antes de tudo, se organize. Faça uma lista de todas as dívidas que seu negócio tem e saiba quanto deve ser pago. Em alguns casos, pode ser necessário ligar para os credores para conhecer os valores atualizados.
Dois valores muito importantes de se ter em mãos, mesmo quando não se está endividado, são o faturamento mensal da sua empresa e os gastos fixos. Assim, é possível saber quanto entra e quanto sai do caixa mensalmente.
A intenção aqui é descobrir quanto do orçamento está disponível para a renegociação de dívidas em face a quanto deve ser pago. Uma dica é consultar seu CNPJ para garantir que não está esquecendo nenhuma dívida.
Na hipótese de que a quantia de dinheiro disponível seja muito baixa, a dica é tentar realizar alguns cortes nos gastos, ou procurar alguma forma de obter uma renda extra.
Estabelecer um valor limite de quanto sua empresa vai despender em dívidas negociadas é importante. Isso evita que você comprometa muito do dinheiro disponível e acabe contraindo outras dívidas. Como dissemos no começo deste artigo, imprevistos sempre acontecem. Então, considere-os também na hora de decidir esse limite.
Pode acontecer de não ser possível realizar acordos para todas as suas dívidas. Dessa forma, o recomendado é que se tente quitar as mais caras primeiro. Essas não são necessariamente aquelas que representam o maior montante em dinheiro. Mas sim as que retêm as maiores taxas de juros.
Esse passo não se trata apenas de fazer a ligação e aceitar o primeiro acordo que a empresa oferecer. O momento da negociação é quando você pode obter informações importantes e avaliar se a proposta vale a pena. Portanto, é muito útil fazer perguntas do tipo:
Após procurar entender todos os termos da negociação, se você não estiver satisfeito, solicite a proposta por escrito para avaliar com mais calma. Contudo, não é apenas por telefone que a renegociação de dívidas pode ser realizada. Esse processo também pode ser feito online.
Hoje, muitas empresas dispõem de canais de atendimento, próprios ou de terceiros, nos quais é possível realizar esse tipo de negociação. Basicamente, todo o processo é muito semelhante ao que já foi descrito acima. Só é preciso tomar cuidado quando o acordo é feito por meio de uma assessoria terceirizada.
É importante saber se aquela empresa está, de fato, autorizada a renegociar dívidas, para evitar possíveis golpes. As vantagens da renegociação de dívidas online em relação à feita por telefone é que ela proporciona discrição, é mais prática e evita os custos da ligação.
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Além do interesse do devedor em quitar sua dívida, está em jogo também o interesse do credor em receber o dinheiro. Para quem detém o direito de receber, a pior perspectiva é sempre aquela em que o devedor não consegue pagar e arrasta a dívida por tempo indefinido.
Essa pode até lhe parecer uma situação incomum, mas uma boa forma de obter bons descontos é apresentando sua própria proposta à empresa. É preciso expor de maneira clara quais são as condições financeiras atuais do seu negócio e quanto pode pagar. É possível até mesmo retirar completamente os juros e obter bons prazos de pagamento.
Contudo, não pense que o credor aceitará qualquer oferta. Sua proposta precisa ser realista. Afinal, quem vai receber o dinheiro também não quer sair prejudicado da situação.
Sabia que o Código de Defesa do Consumidor e a Constituição garantem determinados direitos ao devedor em uma renegociação? Listamos alguns deles abaixo.
Se você notar que os juros estão abusivos, você tem direito ao abatimento proporcional e da correção monetária mesmo após a negociação já ter sido feita. Aliás, se você pretende adicionar a opção de pagar em boleto na sua empresa, aqui, ensinamos a calcular juros e multas sobre esse método de pagamento.
O credor é obrigado a fornecer todas as informações de forma clara e esclarecer as dúvidas que o consumidor tem.
A empresa credora tem até cinco dias para retirar o CNPJ do seu empreendimento dos órgãos de proteção ao crédito logo após o pagamento da primeira parcela do acordo.
A sua empresa pode recusar a proposta do credor se as condições não lhe agradarem. Também pode apresentar uma contraproposta em seguida. A ideia é que o acordo seja benéfico para ambas as partes.
Caso tenha um cheque protestado, saiba que é proibido por lei que a empresa credora empurre os custos advocatícios. No contrato, devem constar apenas os juros do acordo e nada mais.
É possível entrar com uma ação com danos morais se você se sentir constrangido, por exemplo, ao ser exposto durante suas cobranças.
Empresas que não têm uma boa política de gestão de cobrança acabam não conseguindo reduzir a inadimplência. Essa exposição pode ser entendida como receber ligações em locais públicos que revelem sua dívida.
Nos casos em que a dívida é muito alta, o credor pode solicitar a penhora dos bens do devedor. Aqui, é necessário cuidado. Nem tudo que está no nome do devedor pode ser penhorado.
Há também bens que funcionam sob regras específicas quanto à sua penhora. O imóvel, por exemplo, em princípio, não pode ser penhorado. Contudo, se ele estiver relacionado à dívida, a regra deixa de valer.
A pressa para quitar as dívidas e sair do vermelho pode nos fazer cair em armadilhas perigosas na hora de negociar.
Já demos algumas dicas de como começar com o pé direito, como a importância do planejamento e da organização. Porém, ainda é necessário evitar firmar um acordo não muito favorável para quem deve. A seguir, listamos algumas atitudes que devem ser evitadas nesse sentido.
Não são apenas as taxas de juros que aumentam o montante final de uma dívida. Acordos que se estendem em muitas parcelas também podem fazer com que o total pago seja superior à dívida original. Portanto, no geral, não vale a pena pagar menos por mês e gastar mais no final.
Muita gente sabe que venda casada é crime. Inclusive, quando é oferecida junto à renegociação de dívidas. Se, durante o acordo, colocarem a contratação de outro produto como requisito para renegociar, não aceite.
Não é porque você renegociou suas dívidas e está mais tranquilo que é momento para entrar em débito novamente. O aconselhável é não contrair nenhum tipo de dívida, mesmo as boas, enquanto não terminar de quitar as atuais. Para isso, é recomendável que você faça um controle das contas a pagar.
Já falamos, acima, da importância de priorizar as dívidas maiores no caso da impossibilidade de renegociar todas. Quitar um débito de menor valor e deixar os juros correndo sobre os de valores maiores é uma péssima estratégia e, com certeza, será muito mais custoso no final.
Dívidas relacionadas ao cartão de crédito e ao cheque especial são comumente as que envolvem os juros mais altos. Portanto, devem ser priorizadas.
O CET (Custo Efetivo Total) deve constar no contrato da renegociação. Nele, estão incluídos não só os juros, mas também outros encargos que as empresas cobram pelos serviços e produtos disponibilizados. Verifique se o CET não supera a sua dívida anterior e evite cair nesse tipo de armadilha.
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Um acordo sobre uma dívida significa que seu caixa terá que conviver com determinadas despesas mensais. Caso não esteja preparado e não consiga pagar algumas das parcelas, há quebra de acordo e isso traz algumas consequências.
O seu CNPJ volta aos registros de inadimplência e você perde a concessão ao crédito novamente. Nesse caso, você pode ser prejudicado até como pessoa física.
Outra vez com o nome sujo e uma dívida ativa, as empresas de cobrança passam a enviar cartas e fazer ligações para que o débito seja quitado. Ou seja, perde-se também a tranquilidade recém-obtida.
Se o novo acordo foi quebrado, o credor pode fazer valer o contrato antigo sobre o novo montante acumulado. Geralmente, as taxas de juros são mais altas. Um novo acordo também poderá ser feito, contudo, serão utilizadas outras bases de valores.
A empresa com a qual você está em dívida diminui consideravelmente sua credibilidade por conta da reincidência de não pagamento. Assim, torna mais difícil a aquisição de novos produtos no futuro.
Depois de todas essas informações, conseguimos notar que, apesar da importância da dívida no planejamento financeiro, é essencial saber o que deve ser feito quando não é mais possível pagá-la.
Negociar uma dívida pode ser uma mão na roda. Mas, somente seguindo as dicas que listamos aqui, conseguimos realizar isso da melhor forma e tirar proveito das oportunidades que um acordo pode nos oferecer no processo de renegociação de dívidas.
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